O fardo do Conhecimento como tortura Intelectual

Buscar o conhecimento nem sempre é uma tarefa de fácil construção, aliás, trata-se de uma perturbação constante do espírito, pois como já está devidamente implícito na metáfora exposta, qualquer espécie de obra, por mais simples que ela seja, implica algum tipo de trabalho, esforço ou dedicação. Mesmo assim, existem indivíduos que pensam ser verdadeiros arquitetos, gabaritados naquela única função de modelar, planejar ou até mesmo de arquitetar o próprio conhecimento,  quando na verdade não passam de meros operários que alimentam a doce ilusão de estarem construindo algo de efetivo, alimentados pela vaidade desmedida na tentativa de preencher algo vazio ou desprovido de conteúdo. Entretanto, mesmo que a busca do conhecimento seja exaustiva, cansativa e angustiante, há ainda uma espécie de comprazimento nesse tipo de trabalho, isto é, de complacência existencial e humana, que é a total satisfação ou contemplação da obra efetivamente construída, mesmo que esta satisfação seja alimentada por alguns em particular como essência, ou melhor, como uma aparência vestida de verdade. Mesmo que a realidade construída pelos homens nem sempre satisfaçam os seus ideais como sujeito racional, pelo menos a nível material, econômico ou filosófico, podemos, mediante a reflexão crítica ou intelectual, mudar essa mesma realidade. Aliás, é somente pela crítica racional, provida de conteúdo ou fundamento, que é capaz de transformar uma realidade conflituosa por si mesma, onde muitos ou poucos deixam a reflexão de lado na tentativa de se alimentarem de uma aparência muito comum entre indivíduos não emancipados intelectualmente, ou seja, entre aqueles que pensam saber alguma coisa, quando na verdade nada sabem. Como é doce perceber então, ou ter consciência que a maiêutica socrática, e o discurso sóbrio da razão continuam sendo o tipo de discurso cada vez mais atual na nossa atual conjuntura escolar. Com efeito, mesmo que muitos queiram julgar ou defender a total inutilidade do conhecimento, da erudição humana ou propriamente da disposição intelectual que muitas vezes em muitos não ocorre, nem por isso estaremos desprovidos de reflexão intelectual, pois esta é uma atividade do entendimento sobre a qual não podemos efetivamente excluir. Estamos, respectivamente dessa maneira, fadados ao pensar, ao refletir, ou seja, ao colocar em prática a verdadeira funcionalidade do intelecto humano, já que, a nível conceitual do cogito - se assim nos permite generalizar e abstrair toda a essencialidade do que foi debatido no grupo com relação a filosofia cartesiana, podemos apenas afirma o seguinte, muito embora este argumento seja apenas para espíritos livros - "(...) não podemos duvidar de que estamos duvidando, pois se assim procedemos, seguindo os passos da mesma reflexão, continuaríamos a duvidar". O mesmo ocorre com o pensar, pois mesmo que este ato esteja irremediavelmente inculcado na existência humana como ser racional, dotado respectivamente de lógica e de cultura, ainda assim, pensar sobre o seu contrário significa refletir sobre alguma coisa. Portanto, mesmo que optemos pela afirmação ou negação da realidade, deveremos sobretudo ter conhecimento (epistème), seja para decidir pelo não como pelo sim, seja pela "vontade de potência" (machtwille) que mascara o mal ou simplesmente pelo fato do "bem" sempre triunfar. Mas, na mais íntima abstração da reflexão exercida aqui, digo e afirmo que não há escapatória, pois este é o fardo intelectual pelo qual estamos condenados, e no qual encontra-se também a nossa ínfima e minúscula existência. Enfim, buscar o conhecimento e dedicar-se plenamente a reflexão pode até parecer uma espécie de tortura, ainda mais quando não temos os instrumentos necessários em vista desta dedicação, ou, ainda mais quando alguns pensam ou criam ilusões de que possuem esses instrumentos, quando na verdade nada possuem,  pois, mesmo considerando essa triste realidade, cada vez mais sujeita a um processo de desintegração do homem como sujeito cosmopolita, ou seja, daquele que se desenvolve intelectualmente, a tarefa torna-se ainda mais fadada ao martírio, mesmo que no final, por mais doloroso que seja, tenhamos algum tipo de comprazimento, de prazer ou satisfação.  


Rodrigo Andia Araújo