Platão e o Mito da Caverna




O Mito da Caverna narrado por Platão no livro VII da República é, talvez, uma das mais poderosas metáforas imaginadas pela filosofia, em qualquer tempo, para descrever não só a condição existencial de duas realidades distintas uma da outra (mundo sensível e mundo inteligível), como também a situação geral em que se encontra a humanidade. Para o filósofo, todos nós estamos condenados a ver sombras a nossa frente e tomá-las como verdadeiras. Essa poderosa crítica à condição dos homens, escrita há quase 2500 anos atrás, inspirou e ainda inspira inúmeras reflexões pelos tempos a fora. A mais recente delas é o livro de José Saramago A Caverna, ou no filme de ficção científica, dado, é claro, no contexto moderno da reflexão filosófica, (Matrix), que procura discutir essencialmente a distinção entre mundo real e mundo virtual ou aparente. 

Platão viu e concebeu a maioria da humanidade condenada a uma infeliz condição. Imaginou, segundo a descrição do mesmo livro já citado acima, que todos os homens estivessem presos, ou seja, agrilhoados,  desde a infância no fundo de uma determinada caverna, imobilizados, obrigados pelas correntes que os atavam a olharem sempre a parede em frente. O que veriam então? O que conseguiriam perceber de verdadeiro diante desta infeliz e triste condição? Para o filósofo, meros reflexos ou, no bom sentido do termo, aparências, projetadas pelas ideias do mundo inteligível. Supondo a seguir que existissem algumas pessoas, uns prisioneiros, carregando para lá para cá, sobre suas cabeças, estatuetas de homens, de animais, vasos, bacias e outros vasilhames, por detrás do muro onde os demais estavam encadeados, havendo ainda uma escassa iluminação vindo do fundo do subterrâneo, disse que os habitantes daquele triste lugar só poderiam enxergar o bruxuleio das sombras daqueles objetos, surgindo e se desafazendo diante deles. Era assim que viviam os homens, concluiu ele. Acreditavam que as imagens fantasmagóricas que apareciam aos seus olhos (que Platão chama de ídolos) eram verdadeiras, tomando o espectro pela realidade. A sua existência era pois inteiramente dominada pela ignorância (agnóia). Há pois, embora já caracterizado e determinado acima,  dois mundos, ou seja, duas realidades completamente diferentes uma da outra.  O visível é aquele em que a maioria da humanidade está presa, condicionada pelo lusco-fusco da caverna, crendo, iludida que as sombras são a realidade. O outro mundo, o inteligível, é apanágio de alguns poucos. Os que conseguem superar a ignorância em que nasceram e, rompendo com os ferros que os prendiam ao subterrâneo, ergueram-se para a esfera da luz em busca das essências maiores do bem e do belo (kalogathia). O visível é o império dos sentidos, captado pelo olhar e dominado pela subjetividade; o inteligível é o reino da inteligência (nous) percebido pela razão (logos). O primeiro é o território do homem comum (demiurgo) preso às coisas do cotidiano, o outro, é a seara do homem sábio (filósofo) que volta-se para a objetividade, descortinando um universo diante de si.